quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O Velho e o novo


Você já soube da novidade? Eu também não, mas certamente deve haver uma. Creio que nem os Atenienses (Atos 17:21) foram tão ávidos por novidades como as pessoas do nosso tempo. A diferença é que agora, realmente, as novidades existem e são muitas. A revolução nos meios de comunicação coloca diante dos nossos olhos a “novidade” de uma forma tão rápida que logo ela se torna velha, substituída pela próxima antes mesmo que nos habituemos à ela. Um dos subprodutos disso é a superficialidade; ninguém tem tempo de se aprofundar em algo, em uma visão, em um pensamento; logo somos motivados a deixá-lo e abrir espaço para outro que vem chegando.
No que diz respeito à vida espiritual, essa questão é ainda mais relevante. Certamente, não sou um defensor de tradições (já tive que me livrar de muitas delas) nem defendo o engessamento das idéias ou formas de se expressar a fé cristã. Porém, quando se fala de vida espiritual, lidamos com realidades eternas e, sendo assim, ainda que os tempos mudem e precisemos nos contextualizar, certos princípios são imutáveis.
Uma das minhas preocupações quanto a esse dilema de ter que manter os princípios que não podem ser perdidos, mas saber atualizar nossa expressão de fé ao tempo presente, diz respeito à nossa capacidade de avaliar o que se recebe ou rejeita. Será que as novidades que recebemos nos levarão ao lugar que imaginamos? Quais serão as conseqüências da incorporação dessa ou daquela idéia na vida da igreja? E as que perdemos com o passar do tempo, não nos farão falta? Resumindo, estamos atualizando nossa fé sem perder conteúdo?
C.S Lewis tinha uma abordagem sobre este problema que me chamou a atenção. Ele costumava sempre ler um livro novo intercalando com a leitura de um antigo. Dizia que ler apenas os livros de seu tempo não lhe daria uma perspectiva clara da vida. Cada época tem sua própria visão das coisas e a mais recente não é, necessariamente, a melhor. Comparando a visão de várias épocas, ele podia perceber com mais clareza os erros e acertos de seu tempo.
Por falar em tempo, é impressionante como algumas pessoas têm a capacidade de viver além dele; de dizer coisas que, após cem anos, ainda serão atuais. A.W. Tozer, ainda em meados do século passado, alertava para o perigo da abordagem que alguns líderes da igreja davam às celebridades, utilizando o testemunho delas como um adorno do evangelho. Dizia ele que o evangelho é bom por si mesmo e não porque este ou aquele artista ou esportista se converteu. É Jesus quem dá brilho à vida de quem a Ele se entrega; não é a celebridade convertida que adorna ou valida o evangelho. Já viu essa “novidade” nos nossos dias?
Outro cuja visão se sustenta, apesar da passagem do tempo, é Spurgeon (1834-1892). Li, recentemente, um artigo dele intitulado “Alimentando as ovelhas ou divertindo os bodes?” http://jesussite.com.br/acervo.asp?Id=1062 , em que fala sobre um desvio (já naquele tempo? Pensei que fosse novidade.) na vida da igreja que procurava fixar as pessoas na igreja, suprindo-as com entretenimento. Segundo ele, (e eu concordo) era uma novidade, uma influência de seu tempo, que trazia distorções à compreensão da verdadeira função da igreja. Ao ler o artigo, parece que ele está falando desse início de século XXI, embora ele tenha morrido ainda no final do século XIX.
Assimilar as mudanças que são necessárias ao tempo atual sem perder a essência da fé cristã, conviver com o “novo” e o “velho” sem perder a direção do eterno – esse é o nosso desafio.

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